O QUE LEVA UM HOMEM A ATRAVESSAR O CANAL DA MANCHA A NADO?

A resposta a esta pergunta depende fundamentalmente do perfil da pessoa que a responde:
Um atleta, no auge de seu vigor físico e desportivo responderia que deseja demonstrar para si mesmo que é capaz de mais este feito. É como se tratasse de seu maior troféu em uma estante já abarrotada de vitórias.
Mas o que dizer de um executivo, workaholic de quarenta e um anos, portanto não mais no melhor de sua forma física, que trabalha catorze horas por dia em média, profundamente envolvido com as metas de sua empresa, positivamente estressado em seus afazeres que se propõe a tal feito?
Só há uma resposta: o desafio.

Desafio pelo feito único.
Desafio pela falta de tempo.
Desafio pela condição sine qua non de mudança de hábitos de vida.
Desafio de coroar uma vida desportiva truncada pelo trabalho logo aos quinze anos de idade.
Desafio para gerar o exemplo de vida.
Desafio por fazer o que se gosta, de modo inovador.

O projeto de Travessia do Canal da Mancha traz à tona um tema muito atual: como conciliar as vidas profissional e pessoal de modo harmonioso e produtivo. Numa sociedade capitalista em que os resultados das empresas estão em primeiro lugar, onde a competição profissional assume proporções de vida ou morte, onde raramente há espaço para iniciativas desvinculadas de um interesse econômico, alguns conceitos ficam para trás, esquecidos nos arcabouços de nossas ambições cotidianas:

Conceitos de uma missão pessoal desafiadora.
Conceitos de se fazer algo construtivo.
Conceitos de se buscar o que se gosta sem interesses.
Conceitos de conhecer seus próprios limites.

Raramente há espaço para sonhos. A ganância pelo poder da organização cega e modela as ambições humanas. Some-se a isso o materialismo da sociedade, que confunde o ter com o ser. Aquele que tem mais acha que é superior. Ao final da vida olham para trás e procuram ver o que foram capazes de construir, além de uma gorda conta bancária.
A Travessia do Canal da Mancha traz o homem ao seu ponto mais desprovido - o nadador de touca, óculos e sunga - e exige do mesmo um desempenho como poucos até hoje conseguiram. Sem o uso de aparelhos tecnológicos, sem o poder financeiro a seu lado, sem a ajuda de terceiros. É o homem que enfrenta harmonicamente a natureza. Não para vencê-la, mas para superar a si mesmo.

Uma experiência muito gratificante para um ser humano. É em sua simplicidade e pequeneza que o homem demonstra seu verdadeiro valor.

Mas as superações não param por aí. O próximo desafio será descrever as experiências e emoções desta aventura em um livro para que todos possam desfrutar dos momentos diferenciados que uma aventura deste porte representa. Partindo de alguém que não tinha a menor condição de executar essa Travessia e que cumpriu sua missão com um resultado honroso, o livro não deixa de representar mais um terreno desconhecido para o qual, com muita vontade e determinação, igualmente me preparo e me esforço a cada dia.
Trata-se de mais uma batalha difícil, mas, com a ajuda e participação dos amigos, certamente será muito prazerosa.

Bons desafios e muito sucesso para você!

© - Percival Milani