RETROSPECTIVA 2005

Qual sua idade, altura e peso atuais?
Eu conheço boa parte de vocês, leitores, e posso dizer que alguns são miudinhos, uma boa parte dentro de alturas e pesos medianos e outros grandes e fortes como touros - ou deveria dizer "como baleias?", dada a natureza do esporte que nos une, a natação. Quanto à idade corporal, valem as mesmas observações: muitos são jovens, outros "recém-nascidos" na faixa dos quarenta, outros já adentrando a terceira idade, como o Wilsão ( hahaha, desculpe por essa, Wilsão!).

Independentemente de sua idade física - dado que a espiritual é tão mais relevante para nossa realização como pessoas - lembre-se que, um dia, há muitos anos atrás, você veio a tomar forma no ventre de sua mãe. Não importa sua condição social hoje - classe baixa, média ou alta - todos tivemos a mesma origem e, acredite, todos teremos o mesmo destino - pelo menos, sob o aspecto material. Naquele momento em que se iniciava uma vida, Alguém (não preciso dizer Quem foi) virou uma ampulheta cento e oitenta graus, colocou-a sobre a mesa da vida e começou a contar seu tempo. A areia está se esvaindo, de modo constante e irreversível. Muitos tentam, em vão, enxergar suas próprias ampulhetas - alguns afirmam com convicção que são capazes de antever fatos no futuro - mas esse dom não nos foi dado, graças a Deus.

Ciente desta realidade e de minha condição de quarentão, entendo que os anos passam a ter significados diferentes com o cair da areia. Quando era mais jovenzinho, vivia cada momento como se o dia fosse curto para tantos sonhos e atividades. Tratava-se de uma intensidade descomunal, com grande foco em meus objetivos, fossem os mesmos pessoais, profissionais ou familiares. Havia uma tendência de exagero em alguns e pouco foco em outros, tudo dentro do que se espera de cabeças pouco equilibradas da juventude. Hoje em dia, sinto que o equilíbrio é maior, mas a energia é mais limitada e passamos a ser seletivos. Eu nunca me imaginei falando algo assim, mas é verdade. Com a idade, todos mudam. O importante, como sempre, é administrar bem as mudanças.

A experiência demonstra que o que devemos buscar é a felicidade pessoal. Mas, como converter essa equação em ações práticas para os grãos de areia que nos restam? Proponho uma análise do ano que passou - a palavra "retrospectiva" está muito em voga nesta época do ano - e, com base nela, projetar o que se deseja para os próximos anos.

As perguntas de praxe são:
Você conseguiu...
1. fazer o que gosta?
2. estar com quem você gosta?
3. atingir minimamente seus objetivos (aqui inclui-se, entre outros, movimentar-se na pirâmide de Maslow)?
4. sentir-se realizado/a?
5. sentir que evoluiu como pessoa? (Essa é particularmente difícil)
6. avaliar sua contribuição para um mundo melhor?

A lista acima é obviamente incompleta, mas serve apenas para meditarmos sobre alguns pontos. Não sei quanto a você, mas eu pensaria algo assim, falando do ano que passou:
Pontos de melhoria: "Poderia ter nadado mais; ter mais tempo em família; escrever mais; evoluir as mensagens de minhas palestras; ser mais atuante frente às estrepolias gritantes do governo Lula; compartilhar mais com meus amigos, fazer um pouco mais por meu país" entre tantas outras coisas.
Adicione-se a isso tudo o que você fez de bom e que buscaria repetir no novo ano, como suas atitudes firmes e suas decisões bem tomadas; suas iniciativas que não poderiam ser deixadas para o dia seguinte, o suor recompensador de seu rosto no duro dia-a-dia, os bons momentos vividos com seus próximos, as alegrias pessoais e em família, etc.

Quando se fala em repensar o ano que passou e projetar suas metas para o que vem, lembro-me de tantos brasileiros que compartilham do mesmo objetivo de atravessar o Canal. Ou, como dizem meus bem-humorados amigos - e tenho muitos nessa categoria - eles também querem tornar-se "atravessadores", assim como eu.
Neste assunto, é recompensador ser tido como uma referência para o assunto e ser frequentemente consultado sobre como fazer, como iniciar, como se financiar, tudo com o mesmo objetivo de formar novos "atravessadores" do Canal.
Essas pessoas estão, pouco a pouco, construindo seus sonhos, assim como eu tive a oportunidade de construir o meu. Elas estão entrando no Ano Novo fazendo suas contas, seus preparativos para tantos objetivos grandiosos. Um deles é o de cruzar o Canal. Sinto-me recompensado por poder participar dos sonhos destas criaturas - algumas das quais vão se tornando amigos de verdade.
Entre meus objetivos para o ano que entra está o de contribuir para esses sonhos de tantos brasileiros. Estou planejando a melhor forma de colaborar. Sinto que atravessar o Canal é como uma droga - das boas, claro - quem fez, não consegue esquecer nem se desvencilhar. O Brasil tem excelentes nadadores, em condições de fazer bonito no exterior. Àqueles que me consultam sobre o Canal, o mínimo que ofereço neste Ano Novo são as orientações e conselhos amigos e descompromissados - não tenho interesses financeiros com isto - de alguém que já viveu essa alegria e que busca novos desafios.
Também não poderia deixar de prestar uma homenagem ao grande nadador Mário Bello, que fez da Travessia 14 Bis - aquela de 24 quilômetros de extensão entre Santos e Bertioga - um de seus sonhos de vida, talvez o mais pungente. Ele participou de TODAS as suas edições até o ano de 2004, quando foi acometido por uma doença que o afastou temporariamente das águas. Até este ano, já tivemos 38 edições desta prova, é mole? Isso é que é exemplo de sonhos atingidos, ano após ano, por toda uma vida!

Quando me perguntam: "Após o Canal, o que vem pela frente?", fica difícil responder com precisão, especialmente pela cabeça "quadradinha" de engenheiro que tenho. Talvez alguns revezamentos ecológicos pela despoluição de praias e rios; talvez algumas travessias internacionais ou até mesmo algumas travessias-solo ao estilo "esloveno". Impossível precisar.
A única certeza é que estarei buscando novos objetivos e novos sonhos.
Recomendo o mesmo para você.
Felizes Anos Novos!

Parar, só quando acabar a areia.

O que achou desta crônica? Dê sua opinião!

Seu e-mail:

Seu nome:

Cidade/ Estado:

Comentários:

-

© - Percival Milani